TEXTO A PARTIR DA LEITURA FEITA NO GRUPO DE ESTUDOS DO PROFESSOR ADEMAR CARVALHO
DIMENSÕES POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA. Orgs. Maria Vieira Silva e Maria Alejandra Corbalán. Alíena Editora.
A base de toda conquista é o professor. Com esse verso do jingle da campanha “Todos pela Educação”, cujo objetivo é garantir uma educação de qualidade para todos os brasileiros até 2022, é que convido meus colegas professores para uma reflexão sobre a importância de se compreender as potencialidades da dimensão política na prática pedagógica.
Sabe-se que o homem, como ser histórico – detentor de vontades, aspirações, anseios, interesses, expectativas –, para fazer-se sujeito, precisa relacionar-se historicamente com outros homens que também precisam se fazerem sujeitos. Não qualquer sujeito, mas sujeitos humanizados!
Nesse contexto interacional, a educação contemporânea deve ser concebida como prática intrinsecamente política. Para M. Chauí (1994), política é o modo pelo qual a sociedade internamente dividida discute, delibera e decide em comum para aprovar ou reiterar ações que dizem respeito a todos os seus membros. Para Vítor Henrique Paro (p.18), a política deve ser entendida como atividade humano-social com o propósito de tornar possível a convivência pacífica e cooperativa entre os grupos e pessoas na produção da própria existência da sociedade.
Entendida desta forma, a política não deve mais ser vista como luta de classes, mas como prática democrática, capaz de “incluir todos os mecanismos, procedimentos, esforços, recursos que se utilizam, em termos individuais e coletivos, para promover o entendimento e a convivência social pacífica e cooperativa entre os sujeitos históricos”.
Sob esse prisma, o processo pedagógico só pode ser concretizado se se supor a concordância do educando como um ser de vontade. Caso contrário, o processo será fundado em meios que negam o alcance dos objetivos. A educação, portanto, exige o envolvimento do educando com sua vontade e ação. O desenvolvimento intelectual da criatura humana evoluiu e com ele evoluíram os métodos pedagógicos para educação da criança. A aprendizagem deve ocorrer por meio da lealdade e compreensão a fim de que a criança seja estimulada à conquista do conhecimento e do ajustamento social em padrões de harmonia e de respeito por todos, incluindo a natureza e tudo quanto existe.
O ensino-aprendizagem voltado apenas para a absorção de conhecimento e que tem sido objeto de preocupação constante de quem ensina deverá dar lugar ao ensinar a pensar, saber comunicar-se e pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo; enfim, ser socialmente competente.
Nesse contexto, o professor deve descobrir seu poder. E poder significa força. Não no sentido de sua imposição, mas como fortalecimento de liberdade que é construída coletivamente como obra humana histórica; pois, a educação assim entendida, constitui-se em autêntica relação social – não qualquer uma, mas “aquelas que se constituem na aceitação mútua, isto é, na aceitação do outro como um legítimo outro na convivência” (Maturana, 1998, p95).
Portanto, a educação, concebida por este prisma, deve ser dialógica (Paulo Freire (1975). E diálogo supõe a conversa de ambos os sujeitos envolvidos – educador e educando. Envolve o saber ouvir e a consideração pelo que o outro diz. Por essa relação se exerce e se aprende a colaboração. Por essa relação se aprende e se exerce o político como democracia. A colaboração entre grupos e pessoas é essencial à convivência pacífica e ao desenvolvimento histórico da sociedade. “Não é a luta o modo fundamental de relação humana, mas a colaboração (Maturana, 1998, p. 34).
A educação contemporânea necessita resgatar valores ético-morais que foram relegados a plano secundário, elaborando a conscientização da responsabilidade do ser perante a si mesmo, ao seu próximo e à vida. Deve estruturar-se no conceito de realização integral, abrangendo valores culturais sociais econômicos e morais do ser humano.
Essa é a política que permeia a educação contemporânea. Daí a importância de considerarmos intrinsecamente políticas nossas práticas pedagógicas, reconhecendo-as como importantes ferramentas de convivência social. Somos conscientes da complexidade da convivência social que vem carregada de conflitos de ordens diversas – tanto de nossa parte como da parte dos educandos. Mas, apesar disso, se queremos consolidar os ideais da paz, da liberdade e da justiça social, não podemos – pais e professores – abrir espaços para esmorecimentos.
O desafio deste século é ensinar crianças e jovens a aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a Ser. Esses desafios são conquistados coletivamente, mas sua base está na prática político- pedagógica do professor que está frente a frente com o aluno em sala de aula.
Arlete Fonseca de Oliveira
24 de junho de 2012