Sou professora de Língua Portuguesa do Ensino Médio Integrado em Química, Secretariado e Alimentos do Instituto Federal de Educação,Ciência e Tecnologia de Mato Grosso - campus Rondonópolis-MT e pretendo registrar neste blog trabalhos realizados em sala de aula com base na proposta de gêneros textuais, a partir de temas geradores.
PROJETO MEIO AMBIENTE: CULTIVO DO HÁBITO DO USO DOS 5 rS
2011: Mais um ano letivo pela frente.
Em 2010, realizamos com bastante êxito o projeto Gêneros Textuais (orais e escritos), objetivando conhecer, analisar e produzir textos ligados aos Valores Humanos. Neste ano, 2011,a proposta dos gêneros visa desenvolver habilidades e potencialidades relacionadas ao respeito pelo MEIO AMBIENTE, sobretudo à prática ao uso dos 5Rs (Respeitar, repensar, reduzir, reutilizar e reciclar). Por isso, abri um página - MEIO AMBIENTE - só com textos que discorrem sobre o tema.
O IFMT campus Rondonópolis não pode prescindir, num momento de agonia do planeta, do seu papel de construção de cidadania.
Aguardem!!
“Se quisermos ter menos lixo, precisamos rever nosso paradigma de felicidade humana.
menos lixo significa ter...
mais qualidade, menos quantidade;
mais cultura, menos símbolos de status;
mais esporte, menos material esportivo;
mais tempo para as crianças, menos dinheiro trocado;
mais animação,
menos tecnologia de diversão;
mais carinho,
menos presente...
(Gilnreiner, 1992)
29 de fevereiro de 2012
14 de fevereiro de 2012
HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
História da saúde pública no Brasil
http://pessoas.hsw.uol.com.br/historia-da-saude.htm
por Luís Indriunas
No início, não havia nada. A saúde no Brasil praticamente inexistiu nos tempos de colônia. O modelo exploratório nem pensava nessas coisas. O pajé, com suas ervas e cantos, e os boticários, que viajavam pelo Brasil Colônia, eram as únicas formas de assistência à saúde. Para se ter uma idéia, em 1789, havia no Rio de Janeiro, apenas quatro médicos.
Com a chegada da família real portuguesa em 1808, as necessidades da corte forçaram a criação as duas primeiras escolas de medicina do país: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas as únicas medidas governamentais até a República.
Enciclopédia Delta Universal
Charge sobre a revolta da vacina
Foi no primeiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no país. O Rio de Janeiro não tinha nenhum saneamento básico e, assim, várias doenças graves como varíola, malária, febre amarela e até a peste espalhavam-se facilmente. O presidente então nomeou o médico Oswaldo Cruz para dar um jeito no problema. Numa ação policialesca, o sanitarista convocou 1.500 pessoas para ações que invadiam as casas, queimavam roupas e colchões. Sem nenhum tipo de ação educativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição de uma vacinação anti-varíola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz acabou afastado.
Enciclopédia Delta Universal
Oswaldo Cruz
Ninguém aceitou a imposição
A forma como foi feita a campanha da vacina, revoltou do mais simples ou mais intelectualizado. Veja o que Rui Barbosa disse sobre a imposição à vacina: “Não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a temeridade, a violência, a tirania a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me envenenar, com a introdução no meu sangue, de um vírus sobre cuja influência existem os mais bem fundados receios de que seja condutor da moléstia ou da morte.”
Apesar o fim conflituoso, o sanitarista conseguiu resolver parte dos problemas e colher muitas informações que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma campanha rotineira de ação e educação sanitária.
Enciclopédia Delta Universal
Carlos Chagas
Pouco foi feito em relação à saúde depois desse período, apenas com a chegada dos imigrantes europeus, que formaram a primeira massa de operários do Brasil, começou-se a discutir, obviamente com fortes formas de pressão como greves e manifestações, um modelo de assistência médica para a população pobre. Assim, em 1923, surge a lei Elói Chaves, criando as Caixas de Aposentadoria e Pensão. Essas instituições eram mantidas pelas empresas que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União não participava das caixas. A primeira delas foi a dos ferroviários. Elas tinham entre suas atribuições, além da assistência médica ao funcionário e a família, concessão de preços especiais para os medicamentos, aposentadorias e pensões para os herdeiros. Detalhe, essas caixas só valiam para os funcionários urbanos.
Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas toma o poder. É criado o Ministério da Educação e Saúde e as caixas são substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, passam a ser dirigidos por entidades sindicais e não mais por empresas como as antigas caixas. Suas atribuições são muito semelhantes às das caixas, prevendo assistência médico. O primeiro IAP foi o dos marítmos. A União continuou se eximindo do financiamento do modelo, que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período getulista.
Quanto ao ministério, ele tomou medidas sanitaristas como a criação de órgãos de combate a endemias e normativos para ações sanitaristas. Vinculando saúde e educação, o ministério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos irrisórios.
Dos anos 40 a 1964, início da ditadura militar no Brasil, uma das discussões sobre saúde pública brasileira se baseou na unificação dos IAPs como forma de tornar o sistema mais abrangente. É de 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social, que unificava os IAPs em um regime único para todos os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o que excluía trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. É a primeira vez que, além da contribuição dos trabalhadores e das empresas, se definia efetivamente uma contribuição do Erário Público. Mas tais medidas foram ficando no papel. A efetivação dessas propostas só aconteceu em 1967 pelas mãos dos militares com a unificação de IAPs e a conseqüente criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Surgiu então uma demanda muito maior que a oferta. A solução encontrado pelo governo foi pagar a rede privada pelos serviços prestados à população. Mais complexo, a estrutura foi se modificando e acabou por criar o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em 1978, que ajudou nesse trabalho de intermediação dos repasses para iniciativa privada. Um poucos antes, em 1974, os militares já haviam criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que ajudou a remodelar e ampliar a rede privada de hospitais, por meio de empréstimos com juros subsidiados. Toda essa política acabou proporcionando um verdadeiro boom na rede privada. De 1969 a 1984, o número de leitos privados cresceu cerca de 500%. De 74.543 em 1969 para 348.255 em 1984. Como pode se ver o modelo criado pelo regime militar era pautado pelo pensamento da medicina curativa. Poucas medidas de prevenção e sanitaristas foram tomadas. A mais importante foi a criação da Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (Sucam).
Durante a transição democrática, finalmente a saúde pública passa a ter um fiscalização da sociedade. Em 1981, ainda sob a égide dos militares, é criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp). Com o fim do regime militar, surgem outros órgãos que incluem a participação da sociedade civil como o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems).
Se de um lado, a sociedade civil começou a ser mais ouvida, do outro, o sistema privado de saúde, que havia se beneficiado da política anterior, teve que arranjar outras alternativas. É nesse período que se cria e se fortalece o subsistema de atenção médico-suplementar. Em outras palavras começa a era dos convênios médicos. Surgem cinco modalidades diferentes de assistência médica suplementar: medicina de grupo, cooperativas médicas, auto-gestão, seguro-saúde e plano de administração.
A classe média, principal alvo destes grupos, adere rapidamente, respondendo contra as falhas da saúde pública. O crescimento dos planos é vertiginoso. Em 1989, já contabilizam mais de 31 mil brasileiros, ou 22% da população, faturando US$ 2,4 bilhões.
Ao lado dessas mudanças, os constituintes da transição democrática começaram a criar um novo sistema de saúde, que mudou os parâmetros da saúde pública no Brasil, o SUS, que será detalhado em outro artigo.
No campo, fora dos hospitais
O trabalhador rural ficou por século excluído de qualquer auxílio sistemático à saúde. Somente em 1963, foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que começa a prever aposentadoria e assistência médica. Tal negligência é historicamente explicado. Na criação das caixas de assistência, a elite cafeicultora e canavieira pressionou para que a novidade fosse limitada aos centros urbanos. Além disso, a mobilização social no interior sempre sofreu revezes com a falta de articulação. Com a criação do SUS, eles foram finalmente incluído como cidadãos no sistema de saúde. Mas como você poderá ver na página sobre os problemas regionais do sistema, os trabalhadores rurais ainda recebem tratamento à margem dos centros urbanos.
http://pessoas.hsw.uol.com.br/historia-da-saude.htm
por Luís Indriunas
No início, não havia nada. A saúde no Brasil praticamente inexistiu nos tempos de colônia. O modelo exploratório nem pensava nessas coisas. O pajé, com suas ervas e cantos, e os boticários, que viajavam pelo Brasil Colônia, eram as únicas formas de assistência à saúde. Para se ter uma idéia, em 1789, havia no Rio de Janeiro, apenas quatro médicos.
Com a chegada da família real portuguesa em 1808, as necessidades da corte forçaram a criação as duas primeiras escolas de medicina do país: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas as únicas medidas governamentais até a República.
Enciclopédia Delta Universal
Charge sobre a revolta da vacina
Foi no primeiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no país. O Rio de Janeiro não tinha nenhum saneamento básico e, assim, várias doenças graves como varíola, malária, febre amarela e até a peste espalhavam-se facilmente. O presidente então nomeou o médico Oswaldo Cruz para dar um jeito no problema. Numa ação policialesca, o sanitarista convocou 1.500 pessoas para ações que invadiam as casas, queimavam roupas e colchões. Sem nenhum tipo de ação educativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição de uma vacinação anti-varíola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz acabou afastado.
Enciclopédia Delta Universal
Oswaldo Cruz
Ninguém aceitou a imposição
A forma como foi feita a campanha da vacina, revoltou do mais simples ou mais intelectualizado. Veja o que Rui Barbosa disse sobre a imposição à vacina: “Não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a temeridade, a violência, a tirania a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me envenenar, com a introdução no meu sangue, de um vírus sobre cuja influência existem os mais bem fundados receios de que seja condutor da moléstia ou da morte.”
Apesar o fim conflituoso, o sanitarista conseguiu resolver parte dos problemas e colher muitas informações que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma campanha rotineira de ação e educação sanitária.
Enciclopédia Delta Universal
Carlos Chagas
Pouco foi feito em relação à saúde depois desse período, apenas com a chegada dos imigrantes europeus, que formaram a primeira massa de operários do Brasil, começou-se a discutir, obviamente com fortes formas de pressão como greves e manifestações, um modelo de assistência médica para a população pobre. Assim, em 1923, surge a lei Elói Chaves, criando as Caixas de Aposentadoria e Pensão. Essas instituições eram mantidas pelas empresas que passaram a oferecer esses serviços aos seus funcionários. A União não participava das caixas. A primeira delas foi a dos ferroviários. Elas tinham entre suas atribuições, além da assistência médica ao funcionário e a família, concessão de preços especiais para os medicamentos, aposentadorias e pensões para os herdeiros. Detalhe, essas caixas só valiam para os funcionários urbanos.
Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas toma o poder. É criado o Ministério da Educação e Saúde e as caixas são substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, passam a ser dirigidos por entidades sindicais e não mais por empresas como as antigas caixas. Suas atribuições são muito semelhantes às das caixas, prevendo assistência médico. O primeiro IAP foi o dos marítmos. A União continuou se eximindo do financiamento do modelo, que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período getulista.
Quanto ao ministério, ele tomou medidas sanitaristas como a criação de órgãos de combate a endemias e normativos para ações sanitaristas. Vinculando saúde e educação, o ministério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos irrisórios.
Dos anos 40 a 1964, início da ditadura militar no Brasil, uma das discussões sobre saúde pública brasileira se baseou na unificação dos IAPs como forma de tornar o sistema mais abrangente. É de 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social, que unificava os IAPs em um regime único para todos os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o que excluía trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. É a primeira vez que, além da contribuição dos trabalhadores e das empresas, se definia efetivamente uma contribuição do Erário Público. Mas tais medidas foram ficando no papel. A efetivação dessas propostas só aconteceu em 1967 pelas mãos dos militares com a unificação de IAPs e a conseqüente criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Surgiu então uma demanda muito maior que a oferta. A solução encontrado pelo governo foi pagar a rede privada pelos serviços prestados à população. Mais complexo, a estrutura foi se modificando e acabou por criar o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em 1978, que ajudou nesse trabalho de intermediação dos repasses para iniciativa privada. Um poucos antes, em 1974, os militares já haviam criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que ajudou a remodelar e ampliar a rede privada de hospitais, por meio de empréstimos com juros subsidiados. Toda essa política acabou proporcionando um verdadeiro boom na rede privada. De 1969 a 1984, o número de leitos privados cresceu cerca de 500%. De 74.543 em 1969 para 348.255 em 1984. Como pode se ver o modelo criado pelo regime militar era pautado pelo pensamento da medicina curativa. Poucas medidas de prevenção e sanitaristas foram tomadas. A mais importante foi a criação da Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (Sucam).
Durante a transição democrática, finalmente a saúde pública passa a ter um fiscalização da sociedade. Em 1981, ainda sob a égide dos militares, é criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp). Com o fim do regime militar, surgem outros órgãos que incluem a participação da sociedade civil como o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems).
Se de um lado, a sociedade civil começou a ser mais ouvida, do outro, o sistema privado de saúde, que havia se beneficiado da política anterior, teve que arranjar outras alternativas. É nesse período que se cria e se fortalece o subsistema de atenção médico-suplementar. Em outras palavras começa a era dos convênios médicos. Surgem cinco modalidades diferentes de assistência médica suplementar: medicina de grupo, cooperativas médicas, auto-gestão, seguro-saúde e plano de administração.
A classe média, principal alvo destes grupos, adere rapidamente, respondendo contra as falhas da saúde pública. O crescimento dos planos é vertiginoso. Em 1989, já contabilizam mais de 31 mil brasileiros, ou 22% da população, faturando US$ 2,4 bilhões.
Ao lado dessas mudanças, os constituintes da transição democrática começaram a criar um novo sistema de saúde, que mudou os parâmetros da saúde pública no Brasil, o SUS, que será detalhado em outro artigo.
No campo, fora dos hospitais
O trabalhador rural ficou por século excluído de qualquer auxílio sistemático à saúde. Somente em 1963, foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que começa a prever aposentadoria e assistência médica. Tal negligência é historicamente explicado. Na criação das caixas de assistência, a elite cafeicultora e canavieira pressionou para que a novidade fosse limitada aos centros urbanos. Além disso, a mobilização social no interior sempre sofreu revezes com a falta de articulação. Com a criação do SUS, eles foram finalmente incluído como cidadãos no sistema de saúde. Mas como você poderá ver na página sobre os problemas regionais do sistema, os trabalhadores rurais ainda recebem tratamento à margem dos centros urbanos.
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8 de fevereiro de 2012
DIÁRIO: UM MINEIRO NAS TRINCHEIRAS DA GUERRA
Estes e outros textos que serão aqui postados é o resultado da produção dos alunos do segundo ano do Ensino Médio do Centro Integrado de Ensino, na aula de Língua Portuguesa. Meu objetivo era que os alunos se colocassem na posição do outro, responsabilizando-se pela coerencia da narrativa.
Como foi parar ali e o que aconteceu no dia em que acordou e estava sozinho
Aluna: Bruna Maria Batista
Série: 2. ano do Ensino Médio
Apesar de o frio não mais queimar os nervos, ossos e músculos, ainda podia sentir o odor de sangue velho e óleo diesel, que é o cheiro da guerra. Naquela manhã de primavera de 17 de abril de 1945, o soldado Passos Dias Aguiar, da Força Expedicionária Brasileira, FEB, acordou no silêncio de uma cidade devastada e no meio da poeira que restava do caos da Batalha de Montese. Ainda sentindo vertigens, Passos demorou a perceber que estava só e fora esquecido embaixo dos destroços de um Panzer, tanque de guerra alemão temido e famoso entre os soldados aliados. Sua primeira atitude foi se mexer para ver se tinha algum ferimento. Sentiu na panturrilha uma dor que já conhecera na tomada de Monte Castelo: estilhaços de bala da metralhadora nazista MG42, conhecida pelos brasileiros como lurdinha. Fora isso, o restante dos ferimentos era corriqueiro. Cacos de vidro pelo corpo, arranhões e cortes eram comuns e, pelo tempo que já vinha sofrendo com isso, parecia que seus glóbulos brancos haviam criado imunidade contra eles, pois não se curvavam a qualquer tipo de infecção que poderiam causar e até os havia passado da categoria de ferimentos para a de machucados.
Após ver que os estilhaços não lhe prejudicavam a locomoção, tentou achar um lugar para se esconder e verificar se estava realmente sozinho. Viu ruínas de uma casa e percebeu o efeito terrível dos tiros e bombardeios na pequena cidade italiana de Montese. A casa tinha marcas de sangue. Estava toda esburacada, as portas destroçadas, os móveis em desordem. Olhou ao redor da cidade e viu que o único companheiro que poderia ter ali era o inseparável medo. Como procurava sempre o lado positivo dos fatos, o pracinha pensou com as últimas gotas de humor de um soldado na guerra: “Pelo menos não precisa pedir licença para entrar”. Entrou na casa. Instintivamente, procurou o que restava da cozinha para ver se encontrava algum alimento e uma mesa para colocar e ver o que tinha sobrado na mochila de 25 quilos que tinha que levar com todos os equipamentos e mantimentos para a possível sobrevivência naquele ambiente hostil. Passou por aquilo que achava ser uma sala, pois havia um sofá empoeirado, uma lareira, uma mesa de canto com um pé quebrado e um porta-retrato caído sobre ela. Arrumou-o para ver se era a foto da família que ali habitara. Não era. Era a personalidade que representava todas as características de um ditador populista, o poder e o sorriso de Benito Mussolini. Passos ficou admirado por ter encontrado uma foto dele ali. Suas pretensões e as de Hitler é que haviam sido a causa da guerra e eram os culpados por aquela casa estar do jeito que estava. Mas não julgou a família por isso. Naquela guerra, todos eram vítimas da boa oratória e do carisma dos ditadores. Além disso, não podia julgar uma família italiana, pois, no Brasil, muitas famílias também colocavam o retrato de Getúlio Vargas na sala. “Devem estar agora com raiva dele” – pensou. Deixou o porta-retrato do jeito que estava para evitar olhar novamente para aquela imagem.
Ao chegar à cozinha, abriu o armário caído no chão. Não havia nada. Claro que não havia. Nesses tempos, comida valia mais que ouro. Havia pratos e louças quebrados pela cozinha inteira. A mesa, virada para servir de proteção contra tiros, estava perto da janela. Colocou-a no lugar. Não aguentou a poeira que subiu e tossiu. Pôs a mochila sobre a mesa e começou a retirar tudo o que havia nela. Tinha de tudo: uma lanterna, um mapa da região dos Apeninos, dois maços de cigarros, uma baioneta, foto da atriz americana Rita Hayworth – que trocou com um soldado americano por uma nota de cruzeiro – notas de dinheiro alemão, americano e italiano, cartuchos das armas, dois pares de meia que precisavam ser lavados, um prato de metal, uma colher, um garfo, o kit de primeiros socorros com duas penicilinas, uma bússola, tesoura, lâminas de barbear, um espelho, luvas, barra de chocolate americano, uma caixa de fósforos, latas de ração, fotos dos colegas de batalhão, um caderno pequeno, uma caneta, um terço que ganhara da avó, uma Bíblia, cartas que recebera de sua namorada Marieta, uma agulha com um carretel de linha para costurar os furos da farda, uma foto da família, um pedaço de corda, um cobertor que achara uma vez numa casa ao desembarcar em Nápoles e mais um punhado de utensílios que recebera durante as batalhas ou que colecionara durante as passagens por diversas cidades italianas para que pudesse mostrar aos amigos e familiares quando voltasse para casa.
Após colocar os objetos em cima da mesa, pensou que tudo poderia ser útil em tempos de guerra. Os cigarros, as luvas e as meias o aqueciam nos dias frios; a baioneta servia mais para abrir latas do que ferir o adversário; o chocolate dava energia; a Bíblia, o terço e as cartas da namorada eram companhia quando se encontrava sozinho na trincheira e esperava o ataque do inimigo. Além da mochila de 25 quilos, carregava um colete, capacete, cantil com água, uma faca, uma pistola Colt M1911 e uma submetralhadora Thompson M1.
Porém, havia três objetos aos quais dava mais importância. O primeiro eram as seis latas de ração norte-americana, que vinha sendo sua alimentação há muito tempo. Diziam que trazia todos os nutrientes necessários para uma boa alimentação. Poderia até trazer, mas uma coisa era certa: tinha um gosto horrível. Como todo bom mineiro, Passos amava e sentia saudades do pão-de-queijo, de uma boa feijoada e dos doces caseiros de sua casa. O segundo era a penicilina. Apesar de não saber o que era, a sua história e a de Alexander Fleming, sabia que aliviava a dor e que já salvara a vida de muitos de seus companheiros. O terceiro era a foto de sua família. Todos estavam nela: o irmão caçula Pedro, as irmãs Maria e Madalena, o irmão José, o irmão mais velho João, a tia Teresa, a avó Rosa, a mãe Aparecida e o pai Juca. Estavam até os dois cachorrinhos Baleia e Fubá. A foto fora tirada no quintal da sua casa. No fundo, aparecia o pomar. A casa ficava num sítio em São João Del Rei do qual a família tirava todo o sustento. A vida era simples, mas nunca lhe havia faltado alimento. Sentia muitas saudades de nadar na lagoa, de comer da comida de fogão à lenha, de acordar com o som do galo cantando, de tirar leite da vaca Mimosa, de ver o pôr-do-sol e do cheiro de mato. Trabalhava na roça e vendia o que era produzido na feira da cidade. Gostava das festas de São João, de passear com Marieta na quermesse e de ir à Igreja todos os domingos. Passos se sentou na única cadeira que estava inteira e acendeu um cigarro. O ambiente bucólico despertou-lhe no coração um sentimento de dor e saudade que o fez refletir por algum tempo sobre como viera parar ali.
Tudo começou no dia 17 de agosto de 1942, quando o navio cargueiro Itagiba foi atingido em cheio pelo submarino alemão U-507. Para tentar uma vida melhor, seu irmão mais velho João foi embora para o Rio De Janeiro e se alistou na Marinha. Infelizmente estava a bordo do Itagiba e não estava entre os sobreviventes. Passos e sua família somente ficaram sabendo da tragédia um dia depois, numa terça-feira, dia 18. Viram a notícia estampada na capa de um jornal da cidade. A dor foi grande. Passos, a partir dali, passou a alimentar o desejo de se vingar da morte do irmão. Como a revolta e a pressão popular eram imensas, em 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro declara guerra contra o Eixo. Não vendo oportunidade melhor para matar nazistas e se vingar, Passos se alista ao Exército, na 2ª Companhia do 1° Batalhão do 11° Regimento de Infantaria, com sede na própria São João Del Rei. Tinha todos os requisitos mínimos para se alistar: mais de 60 quilos, pelo menos 1,60 metro e 26 dentes na boca.
Passos foi treinado de 1942 a 1944. O treinamento era pesado; o sargento, chato; a rotina de exercícios, monótona. Aprender a ler mapas e a mexer em aparelhos com os quais nunca tivera contato: armas, rádios, bússola. Mesmo assim, foi uma fase inesquecível, principalmente por causa dos colegas que viraram grandes amigos. Nas poucas folgas que tinham, jogavam baralho, tomavam cerveja, davam risada, falavam sobre a sessão de cinema e discutiam qual era a mais bela atriz. Ainda lhes sobrava tempo para aprontar com o sargento, é claro, ele não podia podia ficar de fora. Colocavam apelidos uns nos outros e jogavam futebol. Tinha gente ali de todos os cantos do país, com os mais diferentes sotaques.
Como tudo o que é bom dura pouco, no dia 02 de julho de 1944, Passos e seus colegas embarcaram no navio americano General W. A. Mann e cruzaram o Oceano Atlântico em direção à Europa. A viagem inteira foi tomada pelo medo de submarinos alemães atingirem o navio e por enjôos do balanço das águas. O navio era apertado, e tinha que dividir o espaço da cama, que mais parecia uma maca, com o colete salva-vidas, e a mochila de 25 quilos de equipamentos.
Em 16 de julho de 1944, desembarcou na cidade de Nápoles. O objetivo era alcançar a cidade de Bolonha pela estrada conhecida como Rota 64. Para se chegar ao objetivo, os pracinhas, unidos ao 5° Exército Americano, deveriam romper a Linha Gótica, complexo defensivo dos alemães formado por fortificações nos Montes Apeninos. Passos ainda não sabia o frio que iria passar nas batalhas de Monte Castelo e Belvedere. Mas, quando botou os pés em solo italiano, percebeu três fatos que lhe chamaram muito a atenção. Primeiro, o Exército americano era extremamente segregacionista. A 92ª Divisão de Infantaria era formada apenas por negros vindos do sul dos Estados Unidos. Isso era muito estranho para ele, pois na FEB tinha soldados de todas as cores e origens: brancos, negros, mulatos, caboclos, cafuzos e nikeis. Segundo, era que o Exército brasileiro era totalmente obsoleto, tanto em relação aos equipamentos e armas quanto à tática de guerra. Os norte-americanos possuíam armas que nunca tinham visto antes. Tanques mais resistentes, metralhadoras potentes, rádios melhores e táticas eficientes tiveram de ser aprendidos e aderidos pelos brasileiros. Terceiro e último era o relevo. Nunca esperava que iria ser uma região montanhosa, pois não tinha sido treinado para essa situação. Mas o pior estava por vir.
O frio tomou conta nas Batalhas de Monte Castelo e Belvedere. A lama e o chão escorregadio dificultavam a locomoção. Muitos tiveram um dos pés amputado por causa dos pés-de-trincheira. A FEB teve que emprestar casacos dos americanos. Mesmo assim, de forma heróica venceram as batalhas e, já com o clima mais ameno da primavera, prosseguiram para a cidade de Montese. Como em todas as outras batalhas, os tiros de lurdinhas cortaram a comunicação. No dia 14 de abril de 1945, o 11° Regimento de Infantaria passou os morros e chegaram à cidade. A batalha urbana durou até o dia 15. Passos estava na linha de frente quando cruzou a esquina de uma rua e deu de frente com um Panzer. Não adiantava correr, pois havia alemães esperando atrás do tanque. Quando já estava pronto para morrer, escuta um barulho. Nem deu tempo de olhar para trás. Viu uma luz aparecer e jogá-lo contra uma parede. Não viu mais nada. Quando acordou, descobriu que a luz era uma arma do Esquadrão Anti-Tanque e, por isso, estava embaixo dos escombros daquele Panzer. Os companheiros não devem ter lhe achado e deixaram o local. Foi assim que Passos foi parar sentado naquela cadeira. “Parece até que passou muito tempo, por tudo o que aconteceu comigo. Mas não se passaram nem três anos. Tenho que sair daqui agora e encontrar meu batalhão antes que eu vire estatística como os outros mortos”, pensou ele. E foi o que fez. Antes de sair, fez um curativo improvisado na panturrilha para que aguentasse até chegar ao médico do batalhão. Pegou a mochila e foi atravessando a cidade para pegar a estrada. No meio de um canteiro, viu três montes de pedra. Três soldados morreram. Ficou curioso para saber se havia sido considerado morto ou desaparecido na lista de baixas e ficou com medo que algum amigo estivesse entre aqueles montes de pedras ou estivesse machucado. Acelerou o passo.
Quando passou por o que devia ter sido uma padaria, entrou para ver se tinha sobrado algum alimento que pudesse aproveitar. Como na casa em que tinha passado antes, não havia nada. Apenas cacos de vidro e buracos de tiro nos móveis de madeira. Porém, ao abrir a porta de um dos balcões, derrubou um copo de vidro que não esperava que estivesse inteiro e fez um barulho que soou alto naquela solidão. Depois de alguns segundos, escutou um ruído vindo de dentro da cozinha. Passos não acreditou. “Socorro, socorro”. Era isso mesmo o que ouviu. O susto foi tão grande que o sangue lhe subiu à cabeça, e as pernas bambearam. Pegou a arma e preparou-se para o que estava por vir. Apesar de o pedido ser em português, poderia ser uma armadilha de algum nazista. Nessa guerra, deveria estar preparado para tudo. Mas, ao entrar na cozinha, viu que era somente um pracinha que, como ele, fora esquecido ali. O soldado não conseguia falar direito; estava tossindo sangue e na perna estava faltando um pedaço de pele e músculo. Olhou na dog tag, etiqueta de aço usada para a identificação dos soldado. Viu o nome Manoel Silva – 6° Regimento de Infantaria. Tinha que arrumar um jeito de tirá-lo dali. Passos teve de ser rápido. Aplicou a penicilina na perna e enfaixou o mais apertado que podia para estancar o sangramento. Precisava de uma maca. Pegou a porta da cozinha que estava no chão e amarrou nela o pedaço de corda que estava na sua mochila para que pudesse puxá-la. Ergueu o soldado e o colocou em cima da porta. Embrulhou-lhe com o cobertor e, antes de sair, deu-lhe um pouco de água do cantil para ver se acordava. Apesar de beber a água, o soldado não buscava nenhuma reação. Pegou a corda e começou a puxá-lo com todas as forças.
A quase dois quilômetros de distância da cidade, Passos sentiu pingos de chuva caírem em sua nuca. Com as pernas já cansadas e, com toda aquela lama, vencer aquele trajeto não seria nada fácil. Avistou uma fazenda a sua esquerda e, sem hesitar, parou antes que a chuva aumentasse. Apesar de estar com sua estrutura inteira, e os móveis em ordem; não havia ninguém na fazenda. Era de se imaginar. Nem pessoas, nem vaca, nem porco, nem cavalo, nem galinha... mesmo tendo ainda um celeiro, um estábulo e uma casa intactos. Ao entrar na casa, colocou o soldado para descansar na cama que havia em um dos quartos. Passos não queria saber de comer ou beber água, pois o cansaço e a tensão eram maiores do que a fome e a sede. A chuva caía pesada lá fora. Devia ser uma das últimas que sobraram do inverno. Acendeu o lampião para iluminar um pouco o quarto. Sentou na poltrona que tinha em um canto do quarto e começou a pensar que, antes da guerra, aquela fazenda devia ser cheia de vida como o seu sítio em Minas Gerais. Pegou o terço e rezou para que as divindades protegessem a ele e ao soldado. Não queria pensar no que teria que passar no outro dia, já que a ração teria que ser dividida entre os dois e a penicilina estava acabando. Deitou a cabeça e dormiu.
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